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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

As lesões mais frequentes no Ballet


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Oi Gente ! 

Neste post vou dar continuidade no assunto lesões no ballet, a matéria  a seguir é do site Bem Estar - globo.com. 

Espero que gostem !

 Os bailarinos estão quase sempre sentindo algum tipo de desconforto nas costas, (coluna cervical, dorsal, lombar e na pelve), regiões que devemos sempre dar atenção na possibilidade do desenvolvimento de uma estratégia preventiva, onde podemos realizar a avaliação e o tratamento das disfunções articulares (vide colunas sobre Osteopatia), a harmonização das tensões das cadeias musculares e a restauração de uma boa morfologia corporal (vide coluna sobre RPG), o treinamento da estabilização dinâmica lombar através da CUI, conscientização da unidade interna (vide coluna homônima) e a solicitação de um treinamento técnico específico dos passos de uma determinada coreografia.
Porém, podemos afirmar que os pés e tornozelos são estruturas que merecem toda nossa consideração, tanto no ballet clássico como no moderno. A platéia que vai aos espetáculos de dança, clássica ou moderna, anseia em ver pés se movendo com graça e amplitude, contudo desconhece as incansáveis horas diárias de atividade, que incluem duas horas de aula de dança, cinco a seis horas de ensaio e muitas vezes ainda o próprio espetáculo, eles também desconhecem alguns fatores que contribuem para o aparecimento tanto de disfunções, como por exemplo, uma dificuldade de fazer a ponta ou o movimento contrário, por um bloqueio articular, como também de lesões estruturais, tipo uma fratura de estresse ou uma lesão ligamentar no antepé. Esses fatores vão desde fatores extrínsecos, como a utilização de calçados inadequados e salas de ensaio com o chão duro e/ou escorregadio, passando pelos fatores intrínsecos, como o encurtamento dos músculos da panturrilha, do tibial posterior e do arco plantar, até os fatores técnicos, como o aprendizado de uma nova coreografia ou uma técnica inadequada.
A combinação desses fatores vai proporcionar, em relação aos pés e tornozelos um sem número de lesões, como tendinites e tendinoses do tendão do tríceps sural, mais conhecido como Aquiles e do tibial posterior; a fascite plantar; a síndrome do túnel do tarso, que é uma compressão de nervo periférico cuja sintomatologia pode se confundir com a das três alterações anteriores; as fraturas por estresse de tíbia e metatarsos; o hálux valgus, também conhecido como joanete; e as lesões ligamentares, relacionadas com as entorses do tornozelo e do pé.
As lesões agudas ligamentares devem ser inicialmente tratadas com o protocolo RICE, já descrito na coluna de Medicina Desportiva pelo Dr. Ney Pessegueiro do Amaral, e que quer dizer, Rest - Repouso; Ice - Gelo; Compression - Compressão; e Elevation - Elevação; Porém os bailarinos profissionais, da mesma forma que os atletas de elite, não podem ficar muito tempo fora de "combate". Uma forma de acelerar seu retorno aos palcos é a utilização das bandagens funcionais. Bandagem funcional não é imobilização, a imobilização clássica não pode ser utilizada por um bailarino, primeiro pelo fator funcional, com imobilização não há movimento, sem movimento a performance fica prejudicada e segundo o fator estético, a imobilização dificilmente seria aceita por um figurinista. O papel da bandagem funcional é de permitir o máximo de movimento possível, limitando apenas o movimento da articulação lesada, acelerando o retorno à função, com o máximo suporte e o mínimo possível de material (a estética não pode ser esquecida).
Imagine uma entorse com inversão do pé, aquela mais comum onde se vira o pé para dentro, dependendo da gravidade (graus I, II ou III) atuaremos de forma diferente, na entorse grau III normalmente há indicação cirúrgica, nas de grau I e II iniciamos o sistema RICE o mais rápido possível, por 24/48 hs e para acelerar o retorno do bailarino às atividades utilizamos uma bandagem funcional para limitar apenas o movimento de abertura talofibular, protegendo os ligamentos laterais do tornozelo, sem bloquear os outros movimentos do pé, possibilitando a manutenção do bailarino em sua atividade, sem o perigo de agravamento da lesão enquanto paralelamente continuamos o tratamento fisioterápico com os objetivos de manutenção da mobilidade articular, a reequilibração das tensões musculares e o treinamento de proteção articular.

Fonte:http://bemstar.globo.com



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terça-feira, 13 de setembro de 2016

Balé e Medicina: Entrevista com Dr. Rafael Barnabé especialista em pé e tornozelo


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Oi Gente !
O post de hoje e uma entrevista feita pelo Diário de S. Paulo com o ortopedista DR. Rafael de Barnabé especialista em pé e tornozelo. Ele atende como médico assistente no Hospital São Camilo da cidade de Itú -São Paulo, além de ambulatórios públicos e privados diversas patologias ortopédicas de pé e tornozelo, e também em seu consultório particular na mesma especialidade.
Ele é membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia – SBOT e da Associação Brasileira de Medicina e Cirurgia do Tornozelo e Pé – ABTPé. Dr. Rafael é graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto com residência medica em Ortopedia e Traumatologia no Hospital de Base de São José do Rio Preto e especialização em medicina e cirurgia do tornozelo e pé na Santa Casa de São Paulo. Ele nos fala um pouco de sua especialização e escolha da mesma, além da experiência com a dança e também do último congresso em que esteve recentemente no Canadá onde assistiu a palestra com o Dr.William Hamilton, ortopedista e amigo particular de um dos maiores artistas mundiais do século XX, George Balanchine. Confira:
Porque a especialização em pé e tornozelo?
Optei por esta especialização pela diversidade de patologias tratadas, grande número de procedimentos cirúrgicos e o desafio de aliar precisão e delicadeza nesses procedimentos.
Quais as principais lesões que costuma atender?
Atendo em meu dia-a-dia traumas diversos, e nos ambulatórios públicos e consultório privado patologias ortopédicas do tornozelo e pé em crianças e adultos.
Você esteve recentemente em um congresso no Canadá onde assistiu a uma palestra com o profissional/médico ortopedista do incrível bailarino George Balanchine. Como foi? Ele dedicou a sua carreira a tratar de bailarinos e dançarinos do American Ballet, entre outros...
Aconteceu em Toronto - Canadá, entre os dias 20 e 23 de julho o Congresso da Sociedade Americana de Ortopedia Do Tornozelo e Pé (AOFAS), no qual o Dr. William Hamilton  dividiu com os congressistas um pouco de sua experiência como médico do ABT (American Ballet Theatre), entre outras Cias de dança do mundo, falando especialmente sobre o seu relacionamento pessoal com o grande bailarino George Balanchine, considerado um dos grandes artistas mundiais do século XX, e como por influência desse bailarino, se apaixonou pelo mundo da dança a quem dedicou muito da sua vida profissional ao cuidado de artistas dela, inclusive publicando diversos artigos científicos sobre lesões que acometem principalmente os bailarinos, auxiliando no desenvolvimento e aprimoramento da medicina, especificamente relacionada ao tornozelo e ao pé.
Em função da sua especialidade, atua também com bailarinos e dançarinos, o que mais costuma ver e tratar neles?
Meus pacientes bailarinos são, majoritariamente, amadores, apaixonados pela dança, mas não por isso com uma carga pequena de ensaios. Como toda atividade física repetitiva e com grande impacto articular, as lesões estão presentes, sendo as mais comuns entorses do tornozelo, impacto articular, tendinites, fraturas por estresse, entre outras.
O ballet clássico é um dos estilos de dança que mais capacita, em termos musculares, um bailarino. O ballet trabalha diversos grupamentos de músculos. Entretanto, são justamente os bailarinos clássicos que mais se machucam em aula, seja devido a uma má utilização corporal ou à exaustão nos ensaios. Embora a dor seja grande, é comum bailarinos não seguirem as recomendações médicas. Isso se deve aos conselhos e tratamentos recomendados pelos profissionais no caso de lesões que seria “largar” o Ballet nem que seja por um tempo? Qual a resistência quanto a isso?
Nosso organismo tem um limite de estresse físico que suporta, e quando este limite é ultrapassado, as lesões acontecem. Normalmente os bailarinos são grandes apaixonados pelo que fazem e essa paixão, não raramente os impulsiona além dos limites. O overuse é uma grande causa de lesões, como as tendinites e fraturas por estresse já citados. E nem sempre a paixão pela dança vem acompanhada de grande técnica, favorecendo erros posturais, acidentes que levam a dores crônicas, entorses, fraturas. Como toda atividade que solicita muito do físico, o ballet exige um grande preparo muscular, flexibilidade, consciência corporal, propriocepção que se desenvolvem com o treino bem orientado e a pratica frequente, porém dentro dos limites físicos de cada um.
Um bom preparo muscular é indispensável para tornar as bailarinas mais fortes e cessar as constantes dores de cabeça com lesões, que são determinantes para um bom trabalho no ballet. Passando muitos anos de prática, sem dúvidas problemas são causados a bailarina e para amenizar esses problemas o que se recomenda desde o início para se ter uma longa carreira e acima de tudo saúde?
Baseado naquilo que já foi posto, um bailarino que deseja ter uma longa estrada nessa arte deve se preparar, com fortalecimento muscular e alongamentos, mantendo a flexibilidade e, principalmente, "ouvir" e respeitar o seu corpo, tendo a consciência que todos temos nossos limites. Um bailarino profissional, de alto desempenho, terá que convier com as dores, assim como um atleta de alto rendimento o faz, mas aqueles que buscam a dança como forma de prazer e satisfação devem aceitar suas limitações, seguirem de maneira gradual na dança para que possam dançar sempre e de maneira prazerosa. 
Pensando em uma situação contrária, o Ballet é recomendado em alguma situação? No caso para consertar ou evitar algo como pés chatos, etc?
As deformidades nos pés podem ser congênitas ou adquiridas. As primeiras dificilmente são evitadas com algum tipo de atividade, porém algo que traga alongamento e fortalecimento muscular normalmente é benéfico nessas situações. As deformidades adquiridas estão relacionadas ao uso de calçados inadequados, atividade profissional, traumas, etc, portanto a dança pode colaborar para o desenvolvimento, e não prevenção de algumas alterações; mais um motivo pelo qual os limites individuais devem ser respeitados.
Bailarinas, principalmente as profissionais costumam se auto medicar em função de sua rotina, e por medo de se machucar, é comum acharem que dessa forma será evitado. Como se posiciona nesses casos?
A automedicação sempre é arriscada. O uso de um analgésico pode mascarar um problema e este tornar-se mais grave, por exemplo; além dos efeitos colaterais comuns a todas as drogas. Caso o bailarino, seja ele profissional ou amador, sintam algo diferente do normal, devem procurar ajuda profissional.
Como ortopedista e especialista em pé e tornozelo, quais os conselhos que poderia dar, recomendações inclusive para prevenir situações corriqueiras e fáceis, mas que nem sempre se dá a devida atenção?
O principal conselho que posso dar é: respeitem o seu corpo. Ouçam os sinais que ele lhe dá e procure um profissional capacitado caso sinta algo diferente do habitual. A dança exige muito do corpo. Aprenda a “ouvi-lo” e a chance de não haver problemas sérios é maior. Além disso, a preparação é fundamental. Como todo atleta, a parte física deve ser preparada para desempenhar a atividade desejada. Outra coisa importante é cercar-se de profissionais competentes e capacitados, entre eles
Fonte: http://www.diariosp.com.br/blog/detalhe/33587/bale-e-medicina-entrevista-com-dr-rafael-barnabe os professores de dança, preparadores físicos, fisioterapeutas e médicos.

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sábado, 3 de setembro de 2016

Bailarina formada no Bolshoi volta aos palcos após acidente: 'Gratidão'

Oi Gente ! 


No post de hoje é sobre Lucila  Munaretto que foi atropelada no Canadá e ficou em coma, há um ano, a argentina de 21 anos que estudou em Joinville. 

Um ano depois de sofrer um atropelamento no Canadá que a deixou em coma, a bailarina argentina Lucila Munaretto, de 21 anos, voltou aos palcos. Formada pela Escola Bolshoi do Brasil, a jovem está reintegrada ao Coastal City Ballet, onde atua desde 2012. No fim de maio, após meses de ensaios para recuperar os movimentos, Lucila fez parte do corpo de dança.
"Não tenho palavras para explicar meus sentimentos ao voltar aos palcos, basicamente é como se um quebra-cabeça fosse completado com a peça mais importante", contou Lucila ao G1. "É uma mistura de emoções, felicidade, paz e, acima de tudo, gratidão aos céus por me dar esta oportunidade", disse a jovem, nascida na província de Missiones, e que hoje vive no Canadá.
Recuperação para dançar
Ainda no final de 2015, por orientação da traumatologista, a bailarina começou a ensaiar para recuperar os movimentos. Apenas quatro meses depois do acidente, Lucila fez um pequeno papel na apresentação de inverno da Coastal City Ballet, em Vancouver.
“Mesmo não sendo um papel desafiador, Lucila adorou voltar aos palcos e acreditamos que o fato dela participar o ajudou na sua recuperação”, conta Katie Bois, professora de dança da companhia canadense.

Uma das primeiras peças de retorno nos teatros de Vancouver foi "Cinderella", onde atuou como uma das convidadas do baile. Na primavera canadense de 2016, em maio, Lucila teve um papel maior na peça "O Lago do Cisnes".
“Ela dançou no primeiro e no terceiro ato e teve diversos trechos em que encenou com as dançarinas. No segundo ato ela chegou a não se sentir bem, mas demonstrou força e retornou ao palco. O público ficou apaixonado pela sua personagem e muitas vezes a acompanhava mais do que as personagens principais”, lembra a professora.
Lucila voltou a ensaiar meses após o acidente (Foto: Lucila munaretto/Arquivo Pessoal)
Família viu retorno por vídeo
A família, que mora em Santa Catarina, assistiu à volta de Lucila aos palcos à distância, por um vídeo enviado pela filha. “Para nós, foi a melhor apresentação que vimos. Nos fez esquecer de todo o resto que passou”, diz o pai, o marceneiro Marcos Munaretto, em Joinville, para onde a família se mudou quando Lucila tinha apenas 11 anos e o sonho de ser bailarina profissional.
“A recuperação dependia muito da força de vontade dela. É uma menina muito guerreira”, lembra o pai.  Ele conta que, em alguns meses, a renda da família chegou a ficar mais de 70% comprometida com o tratamento, mesmo com uma campanha de financiamento coletivo que ajudou nas despesas. Mas diz que todo o esforço valeu a pena.
Balé na cama do hospital 
A jovem teve várias lesões, passou por cirurgias e chegou a ficar em coma. Ainda na cama do hospital, Lucila começou a executar movimentos de balé, com as pernas para cima.
Um mês depois, recebeu alta e passou os 30 dias seguintes em uma cadeira de rodas. Depois, passou um período utilizando muletas. Durante a recuperação, Lucila teve o acompanhamento da mãe e de uma irmã, que já vivia com ela no Canadá.
Lucila atuou como a convidada no ballet da Cinderella (Foto: Lucila Munaretto/Arquivo Pessoal)Lucila atuou como a convidada no balé de "Cinderella" (Foto: Lucila Munaretto/Arquivo Pessoal)












"A Lucila continuará com tratamento de fisioterapia até quando for necessário. E com a força de Deus e a sua força de vontade, se superará dia a dia", complementa o pai.
“Toda a equipe de professores e dançarinos apoia Lucila de todas as formas possíveis. Nós somos a família canadense dela e vamos continuar ao lado dela em todo o processo de recuperação”, diz a professora.
“Eu acredito que ela vai melhorar um pouco mais a cada dia. Em muitas formas o acidente ajudou a Lucila entender o que é importante e o que pode ser deixado para trás e ainda assim fazer a melhor performance possível”, conta Katie.
Lições
Lucila diz que o trauma trouxe lições. "Aprendi a viver a vida. A solução é viver o momento porque nunca sabemos aonde a vida nos levará, o propósito, nem sabemos se o amanhã existirá", reflete a bailarina.
Ele prefere não prever o futuro nos palcos, mas batalha pela recuperação e pelas conquistas diárias.  "Um passo de cada vez e um dia de cada vez, sendo feliz no momento em que estou vivendo agora".
Lucila interpretou uma fada chamada Sylfide antes do acidente em 2015 (Foto: Lucila Munaretto/Divulgação)
'Feridas já curadas'
No final de outubro, a jovem postou uma foto ensaiando com bailarinas. "Não fique preso às memórias tristes do passado. Não reabra as feridas já curadas. Tudo que passou, passou. Agora coloque seus esforços para construir uma vida nova, olhando para cima, caminhando em frente sem olhar para trás. Começando a minha vida novamente e aprendendo a viver de uma nova forma", escreveu.
Fonte: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2016/09/bailarina-formada-no-bolshoi-volta-aos-palcos-apos-acidente-gratidao.html
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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A neurociência da dança




dance ballet dancer ballerina pointe


Oi Gente !

Os neurocientistas há tempos estudam movimentos isolados como as rotações do tornozelo ou o tamborilar dos dedos. A partir desses trabalhos, sabemos o básico sobre como o cérebro coordena ações simples. Pular com um pé só – e nem tente dar tapinhas na cabeça ao mesmo tempo – exige cálculos relacionados à consciência espacial, ao equilíbrio, intenção e sincronismo, entre outras coisas, no sistema sensório-motor do cérebro. Em poucas palavras, uma região chamada córtex parietal posterior – na parte de trás do cérebro – traduz informações visuais em comandos motores, enviando sinais para as áreas de planejamento do movimento no córtex pré-motor e na área motora suplementar. Essas instruções então se projetam para o córtex motor primário, que gera impulsos neurais que viajam para a medula espinhal e para os músculos, provocando sua contração.
Ao mesmo tempo, os órgãos sensoriais nos músculos mandam uma resposta ao cérebro, dando a orientação exata do corpo no espaço por meio de nervos que passam pela medula espinhal até chegarem ao córtex cerebral. Os circuitos subcorticais do cerebelo, localizados na parte de trás do cérebro, e dos gânglios de base, no núcleo do cérebro, também ajudam a atualizar os comandos motores com base na resposta sensorial e no ajuste de nossos movimentos reais. O que permanece sem resposta é se esses mesmos mecanismos neurais se ampliam para permitir que essas manobras sejam tão graciosas quanto uma pirueta, por exemplo.

Para responder a essa questão, realizamos o primeiro estudo de imageamento cerebral dos movimentos da dança, em conjunto com nosso colega Michael J. Martinez do Health Science Center da University of Texas, em San Antonio, usando dançarinos amadores de tango como objeto de estudo. Escaneamos o cérebro de cinco homens e cinco mulheres usando a tomografia de emissão de pósitrons, que registra as mudanças no fluxo sangüíneo cerebral seguidas por mudanças na atividade cerebral. Os pesquisadores interpretam o aumento no fluxo sangüíneo em uma região específica como sinal de uma atividade maior entre os neurônios da região. Nossos voluntários permaneceram parados dentro da máquina de tomografia, com a cabeça imobilizada, mas movendo as pernas e deslizando os pés por uma superfície inclinada. Primeiro, pedimos que fizessem o passo quadrado, derivado do passo básico do tango argentino chamado salida, sincronizando seus movimentos no ritmo das músicas que ouviam por fones. Em seguida, escaneamos o cérebro dos dançarinos enquanto flexionavam os músculos da perna no ritmo da música, sem de fato moverem esses membros. Ao subtrair a atividade cerebral obtida por essa simples flexão daquela registrada enquanto “dançavam”, fomos capazes de focar nossa atenção em áreas cerebrais vitais para direcionar as pernas pelo espaço, gerando padrões específicos de movimento.

Como era esperado essa comparação eliminou muitas das áreas motoras básicas do cérebro. No entanto, a porção não eliminada era uma parte do lobo parietal, que contribui para a percepção espa Parcial e a orientação em humanos e em outros mamíferos. Na dança, a cognição espacial é primeiramente cinestésica: você sente o posicionamento do seu tronco e membros o tempo todo, mesmo com seus olhos fechados, graças aos órgãos sensoriais dos músculos. Eles graduam a rotação de cada junta e a tensão em cada músculo e retransmitem essas informações para o cérebro que gera uma representação articulada do corpo como resposta. Mais especificamente, identificamos ativação no precuneus, região do lobo parietal muito próxima de onde fica a representação cinestésica das pernas. Acreditamos que o precuneus contenha um mapa cinestésico que permite uma consciência do posicionamento do corpo no espaço enquanto as pessoas se movem à sua volta. Não importa se alguém está dançando uma valsa ou andando em linha reta: o precuneus ajuda a traçar seu caminho e assim o faz a partir de uma perspectiva centrada no corpo – ou “egocêntrica”.

Em seguida, comparamos as tomografias da dança com aquelas realizadas enquanto nossos voluntários faziam os passos do tango sem música. Ao eliminar as imagens das regiões do cérebro em comum ativadas pelas ações, esperávamos identificar áreas críticas para a sincronização dos movimentos com a música. Novamente, essa subtração removeu praticamente todas as áreas motoras do cérebro. A diferença principal estava na parte do cerebelo que recebe informações da medula espinhal. Embora ambas as condições tenham ativado essa área – o vérmis anterior – os passos de dança sincronizados com a música geraram significativamente mais fluxo de sangue no local que a dança auto-ritmada.

Embora preliminares, nossos resultados nos levam a crer na hipótese de que essa parte do cerebelo atua como um tipo de maestro, monitorando as informações em várias regiões do cérebro para ajudar a orquestrar as ações (ver “O cerebelo reconsiderado”, por James M. Bower e Lawrence M. Parcial sons, Scientific American Brasil no16, setembro de 2003). O cerebelo como um todo atende a todos os critérios para um bom metrônomo neural: recebe uma ampla gama de informações sensoriais dos sistemas corticais auditivo, visual e somatossensório – uma capacidade necessária para sincronizar movimentos a diversos estímulos, desde sons até flashes luminosos e toque; e contém representações sensório-motoras para o corpo inteiro.

Inesperadamente, nossa segunda análise também elucida a tendência natural que os humanos têm de bater os pés inconscientemente ao ritmo de uma música. Ao comparar as imagens dos movimentos sincronizados com a música às dos movimentos auto-ritmados, descobrimos que uma parte inferior da via auditiva, uma estrutura subcortical chamada núcleo geniculado medial – MGN, na sigla em inglês –, era ativada apenas durante a primeira ação. No início, partimos do pressuposto de que esse resultado refletia meramente a presença de um estímulo auditivo – isto é, a música – na situação sincronizada, mas outro conjunto de imagens de controle excluiu essa interpretação: quando nossos voluntários escutavam música, mas não moviam suas pernas, não detectamos mudança no fluxo sangüíneo do MGN.

Assim, concluímos que a atividade do MGN refere- se especificamente à sincronização e não apenas ao ato de ouvir. Essa descoberta nos levou a admitir a possibilidade de uma hipótese de “caminho menos honrado” em que o sincronismo inconsciente ocorre quando uma mensagem auditiva neural se projeta diretamente nos circuitos auditivos e de ritmo presente no cerebelo, desviando-se de áreas auditivas superiores no córtex cerebral.

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/a_neurociencia_da_danca.html

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